Primeira Igreja Presbiteriana Independente de Santos
Casa de oração para todos os povos
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Palavras não são somente palavras 
Um antigo personagem humorístico da TV, ironizando o discurso dos políticos que nada mais passa de fala sem sentido, repetia o bordão que se tornou famoso: "Palavras são palavras, nada mais que palavras". Mas será que as palavras são realmente coisas vazias, que se esgotam em si mesmas? Palavras são coisas sem sentido? Claro que não! Se assim fosse a Bíblia não descreveria o ato criador do Pai como um pronunciar de palavras (Gn 1) ou, mais ainda, trataria o Filho de Deus como a palavra que se fez carne (Jo 1,1-14). As palavras tem grande poder! Elas tem o poder de criar ou destruir, aproximar ou afastar, consolar ou agredir, ensinar ou enganar, e muito outros empregos mais. As palavras são instrumentos que comunicam o amor ou o ódio, a comunhão ou agressão, a paz ou a violência. a palavra é isso: um instrumento, e como tal pode ser usada tanto para o bem como para o mal, tanto em favor das pessoas como contra elas. Muitos relacionamentos já foram destruídos por palavras mal dita e muitos problemas solucionados por uma palavra bem dita. E, indo além, depois que as palavras saem de nossos lábios não nos pertencem mais. Quem as ouve as interpreta e as acolhe segundo o que lhe parece mais do que segundo aquilo que desejávamos expressar. Por isso é preciso que tenhamos muito cuidado com o uso que fazemos das palavras, para que, quem as ouve, receba aquilo que realmente desejamos falar. A palavra falada em tempo certo, da maneira correta, é uma preciosa ferramenta para a paz. Por isso diz a sabedoria bíblica "Como maçãs de ouro em salvas de prata, assim é a palavra dita a seu tempo" Pv 25,11


Bendito o que vem em nome do Senhor
A passagem de Mateus que narra a entrada de Jesus em Jerusalém (Mt 21,1-11) mostra alguns fatos que, as vezes escapam do leitor menos atento. O primeiro e mais claro deles é que a idéia de uma entrada triunfal só aparece no título que não pertence ao texto bíblico, mas é fruto da editoração. Outro fato e talvez até o mais importante, é o comportamento da multidão que observa a chegada de Jesus. Tradicionalmente lembramos daqueles que estendiam suas vestes e ramos para o Mestre passar e que clamava: "Hosana ao Filho de Davi; bendito o que vem em nome do Senhor. Hosana nas alturas" (v.9) Porém os v. 10-11 mostram um outro grupo com reação distinta. Eles perguntam: "Quem é este?" e respondem: "Este é Jesus, o profeta de Nazaré da Galiléia". Um grupo o saúda com o título messiânico "Filho de Davi", outro o reconhece apenas como um profeta, e o limita à pobre e desprezada região da Galiléia. A diferença entre esses grupos está indicada no início do v.10 "entrando ele em Jerusalém..." Isso significa que os que gritavam "Hosana" estavam fora de Jerusalém e estavam dentro os que o identificavam como um profeta da Galiléia. Em festas como a Páscoa, Jerusalém recebia peregrinos em número que chegava a três vezes o da própria população. A falta de hospedarias fazia com que somente os mais ricos encontrassem lugar dentro da cidade, enquanto que a maioria do povo ficava acampada à volta da cidade. Portanto, o grupo que saudou a Jesus com alegria era formado pelos mais pobres, enquanto os mais ricos viam Jesus com curiosidade e indiferença. Independentemente da questão social que aí se coloca, o importante é notar que aquelas pessoas olharam para Jesus de diferentes formas, Enquanto uns cantavam a chegada do Filho de Deus, outros o viam como "mais um" profeta entre tantos. Esta situação nos faz pensar como temos olhado para Jesus. O reconhecemos como Filho de Deus e Senhor de nossas vidas ou vemos apenas mais um líder religioso? Cantamos hosanas ou perguntamos quem é ele? Para negar a Jesus não é preciso rejeitá-lo explicitamente; basta a indiferença. Jesus é o Cristo, o Messias, o Senhor da humanidade, reconheçamos esta situação ou não. Ao reconhecermos o seu senhorio estamos nos enquadrando na ordem estabelecida do reino de Deus.


 As mulheres e o Reino de Deus 
No dia 8 de março comemora-se o Dia Internacional da Mulher. Pessoalmente não sou muito favorável à comemoração de datas como essa, pois me parece que um dia do ano é separado para as mulheres e os outros são para os homens. Porém, não pode ser esquecida a morte daquelas mulheres na fábrica que incendiou, presas somente porque reivindicavam direito mínimos de trabalho e sobrevivência digna. Foi um marco histórico da violência praticada contra a mulher. Marco que, infelizmente, não serviu para chamar a atenção do mundo para esse mal a ponto de extirpá-lo. Pelo contrário, ele continua presente, especialmente em certas culturas que até o justificam e legalizam. E, em muitos lugares, se ele não é justificado, é mascarado e aceito como se fosse natural. Infelizmente, alguns cristãos e até igrejas se comportam assim. Sob a máscara da "vontade de Deus" ou do "ensino bíblico" colocam a mulher num plano inferior negando-lhe os mesmos direitos dos homens, principalmente no que se refere a alcançar cargos de liderança. Dizem eles que Paulo proíbe a mulher de ensinar e que Jesus não tinha nenhuma mulher entre os apóstolos. Porém esquecem que o mesmo Paulo afirma que em Cristo não há diferença entre homens e mulheres (Gl 3,27-29) e que a afirmação do apóstolo é feita em um contexto muito específico, o da igreja de Corinto, que era cheia de problemas e até imoralidades. Esquecem também que ninguém valorizou mais a mulher do que Jesus. Se não havia nenhuma mulher entre os doze (imagine o escândalo que seria naquela época uma mulher peregrinando num grupo de homens), também não havia nenhum gentio e nem por isso exigimos que todos os líderes de nossas igrejas sejam judeus. Além disso, o Senhor concedeu às mulheres o privilégio de serem as primeiras a anunciar a notícia mais importante de toda a história: a ressurreição de Jesus (Jo 20,11-18) Por toda a Bíblia há diversos casos de mulheres chamadas para exercerem funções de liderança no povo de Deus, desde funções de governo, de ensino e até mesmo na guerra! Pois, se o Senhor é quem chama alguém para o ministério, quem poderá limitar esse chamado? Desde a criação Deus fez homens e mulheres iguais em honra e dignidade, pois ambos são a imagem e semelhança de Deus. E a todos chama para colaborarem na construção de seu reino.


O dia em que a terra não parou 
Em 1951, no contexto da corrida armamentista provocada pela guerra fria, o cinema produziu um dos primeiros clássicos da ficção científica, chamado "O dia em que a terra parou". Muito antes dos efeitos especiais que dominam as telas hoje em dia, o filme tratava da vinda de um extra-terrestre e seu fiel robô num disco voador para alertar as pessoas de nosso planeta sobre os perigos de uma guerra nuclear. Se na ficção a terra para ouvir a palavra de uma alienígena que veio dizer o que todo mundo já sabia, na vida real parou em outras ocasiões. Parou em 11 de setembro de 2001 quando a TV mostrou os ataques às torres gêmeas, parou quando o homem pisou na lua pela primeira vez em 20 de julho de 1969, parou para ver finais de Copas do Mundo ou Jogos Olímpicos. O mundo já parou para ver e ouvir muitas coisas. Mas a terra não parou para os eventos mais importantes de toda história da humanidade: a morte e a ressurreição de Jesus. Em especial o acontecimento da ressurreição, principal acontecimento, não foi testemunhado por ninguém. Somente algumas pessoas viram a Jesus depois de ressurreto. E certamente houve quem tratasse a crucificação como mais uma entre tantas outras, mais um estorno que estava atrapalhando a vida normal de Jerusalém. Nada que merecesse que se parasse o que se estava fazendo para se prestar atenção. Pode-se lamentar que assim tenha sido, mas podemos aceitar que esta foi a vontade de Deus. E, assim, também aprender um pouco a respeito do Senhor. O evento salvifíco por excelência aconteceu em meio à vida ordinária das pessoas. Enquanto as pessoas andavam pra lá e pra cá, compravam, vendiam, conversavam, planejavam, festejavam, choravam, etc. Deus agia trazendo redenção à toda a humanidade. A morte e a ressurreição de Jesus não foram espetáculos que reuniram milhares de assistentes, mas um ato de extremo amor e de efeito definitivo. E também não é assim conosco? Dia após dia o Senhor nos dá a bênção da vida, do sustento diário e de tantas outras coisas essenciais, as quais nem sempre nos damos conta. O seu amor é eficaz mesmo quando não reconhecemos a sua presença conosco. Assim é o Senhor. Age em meio ao transcorrer de nossas vidas, muitas vezes nos trazendo o que é essencial, sem que nós nem percebamos os efeitos, a eficácia e a grandiosidade do seu agir.


A IPIB e o IDE!
"E chegando-se Jesus falou-lhes, dizendo: É me dado todo o poder no céu e na terra. Portanto, ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos. Amém!" Mt 28,18-20. Um dos motes da fundação da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil foi a evangelização de todo o território nacional. Passados mais de cem anos, vemos que ainda há muito por fazer. E são várias as causa dessa situação e não nos cabe detalhar todas elas. Podemos observar que, após um período inicial de grande crescimento proporcional, parece que o ardor missionário arrefeceu e a igreja estagnou seu projeto de crescimento. Em algum momento parecia querer despertar novamente essa chama, como a ida com os migrantes para ocupar o norte do Paraná na década de 30 ou as grandes campanhas evangelísticas da década de 50. A partir do final dos anos 70 e início dos anos 80 a IPIB se lançou no projeto de acompanhar o novo deslocamento populacional, agora para o norte do Mato Grosso e Rondônia. Na década de 90 a igreja em dois novos projetos, desligando-se dos movimentos de migração e querendo alcançar estados em que não estávamos presentes, o Espírito Santo e Rio Grande do Sul. O trabalho neste último teve maior sucesso e, se o Senhor permitir, em breve teremos um presbitério tomando chimarrão! Não se pode esquecer o impacto que a presença do Seminário de Fortaleza, fundado em 1986 tece sobre todo o nordeste, levando a igreja a um expressivo crescimento desde então. No ano passado a IPIB assumiu o desafio de chegar ao Acre, um estado quase que esquecido na Federação e que nos deu importantes brasileiros, como Chico Mendes. Enviou para lá um casal de pastores, Reva. Jaqueline e Rev. Joaquim, com o intuito de ali fincar a bandeira do presbiterianismo independente. Pois no dia de hoje os presbiterianos independentes de todo o Brasil são chamados a colaborar com esse trabalho através de uma oferta especial. Estaremos levantando essa oferta por ocasião do culto noturno. Mas também nos lembremos da nossa responsabilidade, como 1a IPI de Santos e como Presbitério do Litoral Paulista (que já tem quase 20 anos), de levar o pendão real a todas as cidades de nossa região. Que assumamos essa tarefa com desejo de servir ao Senhor.


O REINO, O PODER E A GLÓRIA
A oração do Pai-nosso se encerra com uma expressão de adoração que só aparece na versão de Mateus e não na de Lucas. Esse fato é explicável porque o primeiro evangelista, ligado às tradições judaicas, tratava a o Senhor com enorme cerimônia e reverência. Chega a contrastar com o início da oração que chama o Senhor por um termo de grande intimidade. Se esta frase pertencia ou não à oração original, não é tão importante. O importante é que ela á usada pela igreja – ou, ao menos, parte dela – desde a antiguidade na expressão da sua fé.
Seu sentido é claro: todo o poder pertence ao Pai que dirige a história, a natureza e a vida das pessoas a fim do cumprimento da sua promessa acerca da instauração do seu reino. Deus é o Senhor que a tudo dirige com um determinado e justo propósito por ele estabelecido desde antes da fundação do mundo. Esse propósito é o da perfeita comunhão e integração entre criador e criaturas, incluindo aí todos os seres humanos e todo o restante da criação.
Essa afirmação não parece ser alvo de questionamentos diretos, mas na prática existem muitas pessoas que se comportam de modo diferente, atribuindo a outrem o poder que pertence a Deus. Veja-se, por exemplo, as pessoas que defendem a pena de morte para determinados crimes. Por mais hediondos que esses crimes possam ser, não cabe a nenhum ser humano a decisão sobre a vida ou a morte de outro. Tomar em suas mãos o direito sobre a vida de alguém é um poder que só cabe a Deus.
Se só Deus é o Senhor da humanidade, não cabe a qualquer ser humano se assenhorar de outro, tornando-o seu escravo. Embora vivamos no século XXI, num país que se diz livre, sabemos que ainda existem aqueles que escravizam outros, os mais pobres, por mais vil que essa prática seja. E que não se pense que isso só acontece em algumas regiões, pois é uma prática infame em quase todo o Brasil.
Qualquer forma de discriminação e segregação, de preconceito, é um atentado contra o senhorio de Deus. Quem discrimina, por exemplo, por conta da cor da pele, acha que só porque sua pele tem um tom e a do outro tem outro, é melhor ou mais amado de Deus. Da mesma forma, qualquer forma de preconceito, seja por qual motivo for, é uma tentativa de tomar o lugar de governo que pertence só a Yahwhe.
No meio religioso e evangélico também se instalaram práticas e idéias que contrariam a certeza de que é o Senhor quem governa. Uma delas é a de atribuir ao Diabo um poder que ele não tem. Ele não tem tanto poder, mas existem aqueles que vivem a atribuir ao Diabo o poder de induzi-las a erros graves, a tomar para si vidas, a incorporar em pessoas ou fazê-las adoecer, a promover grandes destruições. Atribuem a ele a culpa de seus próprios pecados. Da forma como falam, parece que o Demônio tem mais poder até do que o próprio Deus. Deus é o Senhor e não há demônio ou qualquer outra força que possa resistir a ele.
Outra prática que se instalou entre pregadores que se dizem cristãos é a de querer mandar em Deus. Embora não admitam explicitamente, parece que eles é que governam e não o Senhor. Eles têm a audácia de mandar o Pai fazer isso ou aquilo. Usam palavras como determinar, coroar ou declarar como se eles tivessem poder para estabelecer as condições da história. Se atribuem títulos cada vez mais imponentes como se isso lhes conferisse poder e autoridade. Se esquecem que prestarão contas a Deus. O pastor e teólogo alemão Dietrich Bonhoeffer dizia que qualquer um que tenta tomar o lugar que é de Cristo, é o anticristo.
Só Yahweh é verdadeiro Deus e Senhor da humanidade e de toda a criação. Ele detém todo o poder e não nos abandonou à nossa própria sorte. Ele conduz todas as coisas para o cumprimento dos seus santos propósitos, mesmo quando nós não somos capazes de perceber ou compreender isso.
E, apesar de ter em suas mãos toda a autoridade da nossa imperfeição, Deus nos chama para participarmos da administração da criação, da condução da história e dialogar com ele na construção de seu reino de amor, justiça, paz e solidariedade. O Senhor que tudo governa não o faz como um tirano, mas nos faz participantes de seu reino, seu poder e sua glória.