Uma Igreja para Nossos Filhos Recebemos das gerações passadas uma herança de fidelidade ao Senhor expressa na história da nossa igreja. Essa história nos trouxe a comunidade que temos e nos confere identidade. Porém, assim como recebemos de nossos pais, é certo que entregaremos uma herança para nossos filhos. E devemos pensar a respeito de que igreja daremos à próxima geração. Dai nos perguntamos: que igreja construímos para entregar à próxima geração? A primeira característica não poderia ser outra que não a fidelidade ao Senhor. Nenhuma igreja o será de fato a sua principal preocupação não for a de servir a Deus em todas as suas formas. Para isso é necessário que ela se dedique ao estudo da sua palavra, interpretando-a para nossos dias e a aplique em todas as situações. A igreja fiel é aquela que conhece e pratica a palavra de Deus. Como conseqüência, a igreja deve ser instrumento de exaltação do nome de Deus e apenas do nome de Deus. Em todo o universo e principalmente na comunidade de fé, nenhum outro nome há que possa se exaltado que não seja o da Santíssima Trindade: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Portanto, a igreja não pode existir para exaltar qualquer outro. Outra característica importante da igreja que sonhamos é sermos uma igreja independente. Para muitas pessoas isso significa apenas uma placa diante da igreja. Grande engano! Em primeiro lugar, ser presbiteriano independente significa ser herdeiro de uma rica história de testemunho do evangelho. Em segundo lugar, ser presbiteriano independente significa apoiar um sistema de governo democrático e representativo, algo especialmente importante em meio a tantas ditaduras eclesiásticas que por aí se espalham. Igualmente precisamos ser uma igreja missionária, no sentido amplo deste conceito. Missionária não somente em implantar comunidades presbiterianas independentes, mas principalmente expandir os valores e vida do reino de Deus, tais como amor, justiça, solidariedade, comunhão, fé, etc. E só seremos uma igreja verdadeiramente missionária se formos também uma igreja profética, que proclame a palavra de Deus para todas as esferas da vida, denunciando o pecado onde estiver e anuncie a salvação que vem do Senhor. Que o Senhor guie a 1ª IPI de Santos na sua caminhada em direção ao futuro!
O Presbiterianismo e a Democracia No próximo domingo o país estará passando por uma nova eleição, desta vez para escolher prefeitos e vereadores. Diferentemente de tempos passados, essa eleição parece não ter despertado (ainda) o interesse da população. Pelo contrário, as pessoas parecem até achar que este evento não vai ter nenhum efeito direto sobre a sua vida. Em parte, a culpa é dos próprios políticos constantemente envolvidos em notícias de escândalos e corrupção. Inclusive os políticos que se apresentam como evangélicos. Aliás, se durante as décadas de 60, 70 e até meados dos anos 80 do século passado os evangélicos eram de certo modo avessos ao envolvimento com partidos políticos em geral, desde então não faltam candidaturas cujos nomes são precedidos de títulos como “pastor”, “bispo” ou “missionário”. E, embora houvesse antes a citada aversão, também é fato que em nossas igrejas presbiterianas sempre exercitamos a democracia. O regime presbiteriano é democrático por excelência, valendo-se da representatividade eleita pelo voto popular para o exercício do governo. Há de se notar que houve tempo no Brasil em que o único lugar em que o povo exercia o direito do voto era em algumas igrejas evangélicas, especialmente as presbiterianas. Por isso mesmo, para nós presbiterianos, o direito de votar não pode ser negligenciado, seja na esfera eclesiástica ou civil. A escolha de um candidato é algo que se reveste de grande importância. Sabemos que a escolha de um mau governante pode acarretar anos de problemas, não somente a nós, mas também a todos aqueles que serão governados por esses dirigentes. Não cabe, numa igreja democrática como a nossa, fazer qualquer indicação de voto, mas é pertinente o apelo para que cada crente exerça o voto com consciência e responsabilidade. Por isso, mesmo quando uma eleição não nos desperta interesse ou achamos que ela já está definida, devemos votar com responsabilidade, pois pouco vale orar pelos governantes se, quando temos a oportunidade de escolhê-los, o fazemos com insensatez.
Louvor E Adoração - 1 – Um pouco de história Desde meados do século passado que a hinódia protestante iniciou um processo pelo qual os hinos tradicionais foram sendo substituídos por cânticos de caráter mais popular. Nesse período surgiram muitos conjuntos que divulgaram esse tipo musical nas igrejas, alguns que marcaram época. Logo quase todas as igrejas tinham seus conjuntos, formados principalmente por jovens, que reproduziam o repertório alheio ou, em casos raros, produziam o seu próprio. Seja na formação do grupo, nos instrumentos utilizados ou nos ritmos empregados, esses conjuntos sempre seguiram as tendências da música popular de sua época. É uma forma mais simples de cantar e mais próxima da musicalidade conhecida das pessoas. A partir da década de 80, e com grande crescimento na década de 90, uma nova tendência se verificou. Em primeiro lugar, mudou a temática das letras. Antes, as letras tinham um objetivo ligado ao testemunho e à evangelização, principalmente. Nessa época passam a ser de exaltação e louvor a Deus, principalmente. Mas a grande mudança foi provocada pela descoberta do “filão evangélico” pelas empresas de comunicação. Assim, a música evangélica transformou-se de meio de adoração em um grande negócio. Em lugar de culto, passamos a ter shows e todo artista decadente “se convertia” e voltava a vender muitos cd’s. Para muitos, o que interessa não é compor música que sirva de instrumento para a palavra de Deus, mas que venda o maior número de cópias. E, como prova a teoria da cultura de massas, sempre que um determinado movimento cultural pretende alcançar um número maior de pessoas, tende a tornar sua mensagem mais fraca, menos contundente, até mesmo incorporando elementos de outros movimentos, o que chamamos de sincretismo. O sincretismo é particularmente danoso quando misturamos ao cristianismo elementos de outras práticas religiosas. Assim, de modo geral, duas características marcam as músicas evangélicas a partir dos anos 80: os interesses comerciais substituem os interesses evangelísticos e, conseqüentemente, a qualidade musical e poética das letras decai vertiginosamente. Para verificar isso, basta comparar a média dos “corinhos” dos anos 60 e 70 com a maioria dos “louvores” dos anos 90 para cá.
Louvor E Adoração - 2 – Música e culto A arte tem profunda influência em nossa vida, embora muitas vezes não nos demos conta disso. Ela age no nosso inconsciente provocando em nós muitas e diferentes impressões. As cores produzem sensações de calor e frio, calma e agitação, etc. Haja vista que determinadas cores são usadas em certos contextos, porém totalmente ignorados em outros. O marketing sabe explorar bem essa psicologia das cores seja na propaganda, seja confecção de embalagens atraentes, ou em outras áreas. Se as cores provocam em nós tais reações, o que não dizer da música? É fato mais do que conhecido que a música tem o dom de, conforme o ritmo, acalmar ou excitar, levar à introspecção, tristeza ou alegria. Podemos perceber isso pelas diferentes reações dos respectivos públicos em um concerto de música clássica ou num show de rock pesado. O poder da música é tão grande que pode, em certas circunstâncias, alterar o estado de consciência das pessoas. Embora nem sempre propositalmente, grupos religiosos têm explorado esse lado da arte de modo bem eficiente. Os sentimentos das pessoas são manipulados por ritmos e batidas envolventes. E isso em cultos cristãos e não-cristãos; evangélicos, católicos, afro-brasileiros, budistas e outros. Aliás, é difícil dizer qual expressão religiosa não utiliza a música como instrumento de condução dos sentimentos do povo. Isso em si não é errado, desde que as pessoas saibam do que está acontecendo. O problema é quando elas pensam que as sensações provocadas pela música é ação de alguma entidade do mundo espiritual que os envolve como, por exemplo, o Espírito Santo. Por conta das sensações agradáveis que a música produz, nos últimos anos ela tem ampliado seu espaço no culto evangélico. Em muitos casos, até exageradamente. Conheço igrejas que trocaram a Escola Dominical por “cultos de louvor” e muitas que tiraram o púlpito ou a mesa da comunhão para dar espaço para a bateria, teclados e guitarras. E não são poucos os crentes entusiasmados pelos cânticos, mas totalmente aborrecidos com a pregação da palavra de Deus. Há até aqueles que, após o término dos cânticos se retiram, pois já “fizeram sua parte”. E, não por acaso, cada vez mais a ênfase das músicas que ocupam esse espaço não é a letra que transmita uma mensagem, nem uma melodia harmoniosa, mas um ritmo envolvente que altera o estado emocional das pessoas que confundem esse fenômeno com uma possível “obra do Espírito Santo”. Quantos cânticos não vemos cujas letras nada falam, mas possuem uma melodia e um ritmo envolvente? Pois o efeito “espiritual” que causam acontece seja numa igreja, num show ou em qualquer outro lugar. A música é um importante instrumento de comunhão com Deus e com os irmãos. Mas não pode, de maneira nenhuma, tomar o lugar central da palavra e dos sacramentos. E nem ser confundida com ação do Espírito Santo.
Louvor E Adoração - 3 – Grupos de louvor Nestes domingos abordamos a questão das mudanças na música que se experimentou ultimamente nas igrejas. É inevitável que agora tratemos dos grupos musicais, cuja configuração e outras características mudaram bastante. Se pensarmos nos corais que todas as igrejas tinham nas décadas de 50 e 60 até os “grupos de louvor” que não faltam em nenhuma hoje em dia, veremos quanta mudança foi feita. Aliás, o problema com esses grupos inicia pelo nome: grupo de louvor. Usam a palavra louvor como sinônimo de música religiosa, ou mais propriamente de um tipo de música religiosa que se distingue dos hinos tradicionais. E fazem questão de se diferenciar dos hinos tradicionais, mesmo que não se saiba o porquê. É só para ser diferente. Pois ao tentarem se diferenciar, cometem outro absurdo, que é o identificar música com louvor. Afinal, existem músicas de diversos tipos, inclusive louvor e louvor de diversos modos, inclusive musical. Mas nem todo louvor é música e nem toda música é louvor. Mas uma outra questão envolvendo esses grupos me preocupa. É a profissionalização e a caracterização desse “louvor” como espetáculo. Desde a década de 80, com o avança da tecnologia, se tornou muito mais fácil e atraente o uso de equipamentos e instrumentos como também muito mais fácil gravar e reproduzir gravações. E desde então, não são poucos os que descobriram o “mercado gospel” como uma boa fonte de vendas. Principalmente certos artistas cuja carreira secular havia entrado em decadência definitiva. E o caminho é muito fácil. O ex-famoso de ontem é o mais novo convertido e consagrado artista gospel. Não me cabe julgar a conversão de ninguém, mas fica evidente que certas pessoas que não tiveram tempo para se aprofundar na fé e na consagração a Cristo e já se tornam “adoradores”, “levitas” ou qualquer outro nome que se dê a quem prega pela música. E a situação fica mais suspeita quando se sabe que esses e outros cobram altíssimos cachês para “louvar ao Senhor”. Certamente este não é o caso dos grupos que “louvam” na maioria das igrejas. Mas o problema é que esses mesmos grupos imitam os tais louvadores profissionais. Imitam na configuração e instrumentalização dos grupos e nas músicas que cantam. Músicas compostas não para agradar a Deus, mas para agradar ao público, visto que seu principal intento, como profissionais que são, é vender os seus CDs e DVDs. Músicas sem qualquer cuidado teológico, doutrinário ou mesmo artístico, apenas agradáveis e comerciais. Como parcela do povo de Deus, a nossa preocupação principal não pode ser outra além de agradar ao nosso Senhor, primeiramente com as nossas vidas. Pois nenhuma música será verdadeiro louvor se não for conseqüência de uma vida de fidelidade e serviço ao nosso Deus. A vida é o verdadeiro louvor!
Louvor E Adoração - 4 – Adoração ou espetáculo? Muitas vezes ouvi irmãos dizerem o seguinte: “há muitos problemas nos grupos de louvor (sic.) porque esta é a área que Deus mais gosta, e por isso a mais atacada pelo diabo”. Esta frase contém uma verdade e dois enganos. A verdade é que, em muitas igrejas os grupos musicais são fonte de problemas e dissensões. Não são raros os casos de grandes conflitos e até de divisões em igrejas que surgiram inicialmente nesses conjuntos. A nossa própria igreja experimentou isso no passado. Isso é tão evidente que não há necessidade de se buscar provas. A primeira inverdade que a citada frase contém é a de que o momento musical é a área que o Senhor mais aprecia. Ao lermos textos da Bíblia como Is 1,10-20, ou mais ainda Am 5,23-24, percebemos que Deus não se satisfaz com a prática do culto alegre, bela ou bem organizada. Rituais, datas comemorativas, cânticos e até mesmo os sacrifícios não eram o mais importante para o Senhor de Israel. Para Deus o mais importante é uma vida de justiça e integridade, obediência e amor ao próximo. Além disso, culpar o diabo pelos conflitos ali surgidos é se eximir de culpa pelos seus pecados. Grupos musicais, como toda manifestação artística, são espaços de arte e, conseqüentemente lugar de vaidades. Os conflitos ocorrem porque cada um quer “aparecer” mais do que o outro, mostrar-se melhor do que os demais. E aí é que está o problema. Por que aparecer, se o objetivo do cantar é agradar ao Senhor? Aquele que sonda os corações e é capaz de discernir se há algum caminho mal é também capaz de avaliar se aqueles que cantam o estão louvando ou promovendo a si mesmos. Pois quando se louva a Deus, promove-se adoração, mas quando se procura a sua própria exaltação se busca dar espetáculos. E, infelizmente, há muitos mais que desejam dar espetáculos do que adorar verdadeiramente. Seu objetivo não é agradar a Deus, mas satisfazerem as suas vaidades. Por isso não aceitam qualquer função na igreja, só aquelas que os coloque em evidência. Para as discretas “não se sentem chamados”, “não tem o dom” ou “o Senhor lhes mostrou que esse não é o seu lugar”. E por querer se sobressair quebram a harmonia provocando cacofonia. Se perdem o seu lugar de destaque em uma igreja, arrumam um argumento (geralmente que essa igreja não é “espiritual”) e vão para outra onde conseguem novo auditório. Talvez por isso Calvino fosse tão radical. Para ele, o coral só seria admitido na igreja para ensinar o povo de Deus a cantar um hino novo. A música ocupa um importante lugar no culto a Deus. Ela é capaz de alegrar o coração ou levar uma pessoa a introspecção. A poesia pode ensinar com belas palavras, ritmo e rima. Mas isso só acontece se for verdadeira adoração. E adoração só acontece quando a nossa vida for um instrumento de serviço a Deus e ao próximo. Aí nosso culto e nossos cânticos como conseqüência de nossa vida, serão adoração a Deus. A ele seja toda glória, toda honra e todo o louvor.
Saudade Nesse domingo iniciamos as comemorações por mais um ano de vida de nossa igreja. Merecidas celebrações, pois já se vão lá 92 anos de existência, de serviço ao reino de Deus e de testemunho na cidade de Santos. E região, visto que igrejas em outras cidades (Guarujá, São Vicente, Miracatu e Praia Grande) nasceram da dedicação de irmãos em tempos passados e hoje enfrentamos esse mesmo desfio em Mongaguá. É inevitável que ao nos reunirmos para mais um aniversário da igreja, voltemos nossas lembranças ao passado mais ou menos distante. Especialmente aqueles que já estão em nossa comunidade a mais tempo, certamente terão muitas recordações que lhes enchem de nostalgia a respeito de um tempo que não volta mais. São lembranças de pessoas que já não estão mais conosco, ou porque estão em outras igrejas, ou outros lugares ou ainda porque estão com o Senhor. Alguns talvez não só irmãos na fé como também parentes de sangue. Sim, porque igualmente temos saudades dos tempos em que grandes famílias estavam juntas no louvor ao Senhor. A igreja era extensão do lar. Temos no coração a recordações de pessoas que foram importantes para nós, seja por um longo período ou apenas por um momento, mas que nos marcaram com algo de bom. Por certo que, vivendo juntos com muitas outras pessoas por longos períodos de tempo, da mesma forma haverá lembranças de tristes situações, ofensas e outras mágoas. Mas essas devem ser lançadas no abismo do esquecimento com a força do perdão. Que num momento de festa como esse só permaneçam a saudade e a gratidão. Não só de pessoas são feitas as nossas boas recordações. Nos trazem boas lembranças a memória de festas, almoços, jogos, passeios e encontros que fizemos. Quem não guarda a recordação daquele culto, daquele dia, daquele encontro? Sentimos, sim, saudade de eventos que nos marcaram pela alegria, amizade, espiritualidade. Qual dos jovens dos anos 70 não se lembrará das acaloradas reuniões da Umpi, reunindo no antigo salão social (que era atrás do templo, onde hoje estão várias salas) cerca de 50 jovens ou mais? Ah, que saudade do tempo em que a mocidade (com mais de 15 anos) tinha 50 ou 60 pessoas, tempo em que a Escola Dominical tinha muito mais que 100 alunos e a igreja centenas de membros! Certamente esses foram tempos que não voltam mais. Se não voltam mais, isso significa que podemos construir o futuro de outra forma, talvez até melhor. Afinal, se irmãos se foram, outros estão conosco. No passado nós não podemos mexer, mas o futuro nos cabe construir. Deus não nos chama para chorarmos o passado, mas para vivermos a esperança do que vem. E nessa esperança edificarmos a sua igreja e, principalmente, o seu reino. O passado nos serve como referência. Referência do que deve e do que não deve ser feito, de acertos e de erros. Mas o caminho a percorrermos é o que está adiante de nós e não o que está atrás. As lembranças nos trazem saudade e nos ensinam, mas não caminham por nós. Da mesma forma que as gerações passadas testemunharam o evangelho em sua geração, cabe a nós dar continuidade a esta missão, enfrentando os desafios do nosso tempo, guiados pelo Espírito do Senhor. No 92º. aniversário da 1ª. Igreja Presbiteriana Independente de Santos devemos lembrar e agradecer a Deus o que passou, mas também pedir que ele nos oriente na continuação da caminhada, até o dia em que a igreja se encontrará definitivamente com o seu Senhor.
O pão de cada dia Símbolos são imagens, sinais e outras coisas que pertencendo á uma realidade nos remetem a outra. Por exemplo, quando vemos a figura de uma flor, mentalmente relacionamos essa imagem com o perfume que as flores exalam. Quando nos deparamos com uma luz vermelha, ela nos transmite a idéia de perigo. Cada cultura tem os seus símbolos e estes variam de uma cultura para outra, arbitrariamente, às vezes, até sem uma relação clara entre símbolo e simbolizado. Gestos, metáforas, imagens, formas de comportamento e outras coisas que num lugar significam algo, em outro podem ter um sentido totalmente diverso, às vezes até pejorativo ou ofensivo. Mas existem símbolos que são, se não universais, quase isso. Não sei se todos os povos do mundo comem pão, mas desconheço algum que não o coma. Seja pão de trigo, milho, batata, mandioca, arroz ou outro componente, penso que todos comem algum tipo de massa feita a partir de um ou outro vegetal. E mais que uma comida, o pão é o símbolo universal do alimento básico. Falar de pão é falar do alimento básico e necessário à sobrevivência de uma pessoa. Foi por ser um símbolo tão forte e tão abrangente que Jesus utilizou o pão para expressar toda a providência divina pela qual os seus discípulos devem ser gratos Sim, todas as bênçãos que recebemos do Senhor e que suprem as nossas carências estão simbolizadas do pão nosso de cada dia. E além disso, figura do pão pode expressar algo mais que a simples alimentação básica. Pode significar o alimento, o abrigo, as vestes imprescindíveis para a proteção do corpo e todo o tipo de suprimento das necessidades vitais do ser humano. E pode indicar ainda mais: o sentir-se perdoado, a sensação de amor, acolhimento e aceitação, a dignidade de ser humano, sentimentos tão necessários à vida quanto a massa panifícia. Ao ensinar seus discípulos a agradecer pelo pão, Jesus os está instruindo a serem gratos por toda a sorte de elementos, materiais ou não, que recebemos em bênção do Pai celestial. Agradecer pelo sustento material e pelo perdão, acolhimento, amor, graça e salvação. Agradecer pelo pão é agradecer por tudo. Quem pode se lembrar e reconhecer todas as bênçãos que recebe do Senhor? Quem é capaz de agradecer por tudo o que se deve ser grato? Dizer obrigado pelo pão é agradecer pelo alimento, pela moradia, pela saúde, pelo amor, pela salvação e por tudo que do Pai recebemos. Mais do que pedidos de bênçãos pessoais, a oração de Jesus nos ensina a sermos gratos por tudo de importante e necessário que ele já nos dá, e que nem sempre somos capazes de nem mesmo perceber. A oração de Jesus nos ensina a gratidão. A oração de Jesus nos ensina a agradecer pelo pão de cada dia. Sem querer exaltar a imprevidência com que muitas pessoas levam a vida e que o próprio Senhor condenou, esta oração nos ensina que o Pai nos dá o sustento necessário no seu devido tempo, continuamente abençoando-nos com o que nos é indispensável para a vida, e até mais. Semelhante ao maná com que alimentava o seu povo na jornada pelo deserto e que lhe era enviado dia após dia. Nunca falhou, mas também não podia ninguém querer acumular para o dia seguinte. Dessa forma também o Senhor nos supre segundo nossas carências, não permitindo que nos venha a faltar o pão, mas também não querendo que acumulemos riquezas que nos façam confiar mais nelas do que na sua providência. O Senhor nos ensina a sermos gratos pelo pão de cada dia, não pelo pão de amanhã e nem pelo do ano que vem. A gratidão adquire, então, o caráter de dependência de Deus. Tudo o que somos e tudo o que temos, reconhecemos, vêm das suas bondosas mãos. É ele quem nos sustenta a cada dia, dando-nos o necessário - e mais que o necessário - à nossa sobrevivência. Em todas as esferas da vida dependemos do Senhor. E sabemos que ele nos sustenta em amor e misericórdia, não permitindo que nada do que realmente precisamos nos venha a faltar. Ele não nos dá a abundância para que não nos ensoberbeçamos e nos esqueçamos dele, mas também não permite que nos falte o nos é essencial a cada dia. O pão nosso de cada dia é a oração da gratidão pelo que o Senhor nos tem dado, da confiança pelo que ele não nos deixará faltar e da submissão de quem sabe que em tudo depende dele.
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